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Apresentações em Estremoz

28-01-2011 Muito boa noite a todos os presentes e um cumprimento especial ao Sr. Dr. Carlos Santos, membro da Direcção da Associação dos Amigos dos Castelos a quem agradeço a oportunidade de estar aqui hoje partilhando convosco algumas impressões que este castelo muito particular, o castelo de Estremoz, me evoca.
Não conheço as motivações que vos trazem aqui, nesta noite fria de Inverno.
Porque escolhemos em determinado momento estar num local e não em outro, que necessidades procuramos analisar ou resolver com as nossas viagens.
E quando o mote é os castelos, a história, deslocamo-nos no tempo, numa procura consciente ou inconsciente de algo… imaginem que por exemplo tendo vivido há sete séculos atrás viéssemos de novo a este mundo no momento actual, o que estaria na mesma? O que poderíamos reconhecer? A paisagem natural, os animais e algumas construções, poucas, como os castelos…


Fascina-me o mistério dos nossos percursos.
Há cinco anos atrás, dei por mim precisamente aqui, nesta Pousada da Rainha Santa Isabel no castelo de Estremoz, a fazer a primeira apresentação pública de um livro que escrevi sobre nutrição. Por mais improvável que pudesse acontecer a uma pessoa que vive e trabalha a maior parte do seu tempo em Lisboa, tem os amigos, familiares, colegas e pacientes em Lisboa, vir fazer a primeira apresentação pública de um livro em Estremoz, na altura não fazia este tipo de perguntas a mim própria e as coisas pareciam acontecer naturalmente.
Mas não foi um acaso, porque a noite que passei aqui na pousada mudou para sempre a minha vida.
E se hoje volto, passados estes anos, não vos sei dizer bem porquê, mas aprendi a reconhecer a intuição. Então sigo este grande impulso interior de o fazer, há algo que precisa de ser dito aqui, dentro destas paredes. Será para mim própria ou talvez haja alguém que tenha vindo aqui para ouvir o que eu vou dizer, ou para receber o livro que escrevi…

Proponho então recuarmos sete séculos na nossa história, e irmos ao encontro de uma rainha de todos conhecida, que marcou (ou ficou marcada?) para sempre este espaço: a Rainha Santa Isabel.
Infanta aragonesa filha do rei D. Pedro III, fosse pelas suas virtudes ou pela importância estratégica do seu reino, tinha vários pretendentes.
Foi deste castelo, em 1280, que o jovem rei D. Dinis, acabado de subir ao trono com apenas 19 anos de idade, enviou os seus emissários João Velho, João Martins e Vasco Pires, a Aragão para pedir a mão da princesa Isabel.
Ainda que não fosse fácil a incumbência, tiveram sucesso. O casamento com Isabel de Aragão realizou-se por procuração em Barcelona em 11 de Fevereiro de 1282 e foi depois confirmado presencialmente em Trancoso no dia 26 de Junho de 1282. Isabel teria cerca de doze anos apenas.
O reinado de D. Dinis foi, como é bem conhecido, marcante para Portugal.
Mas a própria Rainha Santa Isabel, que tinha as suas terras e castelos, as suas rendas, a sua Casa, composta por numerosas pessoas, entre aias e damas de companhia, eclesiásticos, escrivães, físicos, juristas, etc., foi responsável por diversas iniciativas que dirigia directamente, como a fundação de mosteiros, hospícios e albergarias. Em Estremoz fundou também uma albergaria. Empreendeu diversas acções de mediação diplomática e pacificação. À rainha que ficou celebrizada popularmente pelo milagre das rosas, também se atribui a instituição/difusão do culto do Espírito Santo em Portugal, que ainda está muito vivo em diversas localidades, nomeadamente nos Açores.
É natural que com tanta actividade e iniciativas espalhadas pelo país, estes monarcas viajassem bastante.
Não vos sei dizer quantas vezes, quantos dias, ou quantas noites durante os mais de 50 anos que a rainha viveu em Portugal, terá ela estado em Estremoz.
O que todos sabemos é que foi aqui que terminou a sua vida.
Após a morte de D. Dinis, em 1325, D. Isabel fez uma peregrinação a Santiago de Compostela onde entregou a sua coroa e fez valiosos donativos, tendo recebido um bordão de peregrina.
Isabel passou a viver desde então no seu paço anexo ao Mosteiro de Santa Clara-a-velha em Coimbra, que ela própria tinha mandado construir e cujo hospício cuidava com grande empenho.
Mas o que vem fazer a Estremoz a rainha em 1336, já com 66 anos o que para a época era já uma idade bastante avançada? São muitos dias de viagem a cavalo, e por melhor saúde que rainha teria que ter para se lançar em tal jornada, o percurso em pleno verão foi seguramente duro e penoso.
Isabel veio tentar apaziguar o filho Afonso IV que tinha declarado guerra ao seu genro Afonso XI de Castela por maus tratos à mulher, e filha do rei de Portugal, D. Maria. Afonso XI de Castela era neto da Rainha Santa, único filho da sua filha D. Constança.
D. Isabel já por mais de uma vez tinha intercedido nas contendas entre o seu filho e marido, com aparente sucesso, e provavelmente sentir-se-ia capaz de, mais uma vez, conseguir evitar que o seu belicoso filho derramasse sangue. Mas a rainha em Estremoz adoeceu súbita e gravemente. Não vos sei dizer com que doença, o assunto é passível de muitas opiniões, mas seguramente terá sido um agente infeccioso que a vitimou. Isabel foi acompanhada nos seus últimos dias de vida pelo filho e nora, pelo seu confessor Frei Salvado Martins, pelas suas aias. Segundo a Lenda da Rainha, um antigo texto escrito sobre a sua vida, já muito doente a rainha teve uma visão, perguntando quem era aquela personagem que de vestes brancas passava, sem que nenhum dos presentes vislumbrasse semelhante personagem. Isabel morreu no seu quarto, cuja localização no paço real não conhecemos com exactidão, mas talvez aquela que é agora uma capela mandada construir por D. Luísa de Gusmão no século XVIII tenha sido construída no local onde seria o seu quarto.


Com uma altura considerável, tem uma vista linda para Norte, sobre a cidade de Estremoz, é bem possível que Isabel ali se sentisse bem.
Mas a pousada tem um outro aposento denominado o quarto da rainha santa, o quarto nº 128.
Este quarto tem vista para o lado contrário, para Sul, para a serra de Ossa, logo abaixo para o Largo de D. Dinis, onde está actualmente uma estátua da Rainha Santa Isabel.
Foi nesse quarto em que dormi naquela noite em que aqui estive a fazer a apresentação do  livro.
E na manhã seguinte, quando deixava a pousada de regresso a Lisboa, a casa, algo de extraordinário aconteceu. Ao olhar a estátua do largo, aquela figura de pedra com um ramo de rosas no regaço, era eu. Imaginem, uma rainha de quem pouco ou nada sabia…
Talvez já vos tenha acontecido algo de semelhante, reconhecerem qualquer coisa que nunca viram antes, sentirem-se uma outra pessoa, viajarem no tempo, sei lá…
Para mim foi uma experiência absolutamente nova, inesperada e perturbadora. Tinha duas possibilidades: esquecer ou seguir em frente e ganhar coragem para saber mais.
Da pesquisa que se seguiu, das experiências, das dúvidas, das descobertas, surgiu um livro, com as aventuras da personagem Clara, que publiquei há alguns meses “Alma de Isabel – de Aragão ao Chiado”, e do qual tenho uma pequena apresentação para vos mostrar dentro em pouco.
Mas voltemos à história. Isabel tinha manifestado em testamento a sua vontade de ser sepultada num túmulo mandado por si construir e colocado no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra.
Transportar um corpo num caixão cerca de duas centenas de quilómetros de distância, sob um calor abrasador de Julho (a rainha faleceu em 4 de Julho) parecia uma tarefa impossível. Previa-se uma decomposição inevitável, um cheiro insuportável. Aconselhava a prudência sepultar a rainha em Estremoz e mais tarde fazer a trasladação do corpo.
Mas Afonso IV decidiu cumprir a vontade de sua Mãe. O corpo foi envolto em vários panos, o caixão em pele de boi e o cortejo fúnebre partiu em direcção a Coimbra.
Conta a história que por entre as tábuas do caixão escorria um líquido perfumado, talvez de rosas. E que o corpo se conservou incorrupto, como foi comprovado séculos depois pela abertura do caixão (procedimento imposto para o processo de canonização).
Perante estes factos históricos cada um faça a leitura que entender.
Mas não posso deixar de enfatizar o poderoso magnetismo deste castelo onde estamos: daqui se chamou Isabel para Portugal, e com ela o culto do Espírito Santo que irá assumir nos séculos seguintes um papel preponderante nos caminhos do nosso Ser e da nossa história. E para Estremoz foi Isabel convocada para deixar o corpo físico, e ascender talvez em aladas caravelas para outros planos, outras missões…

E é por isso que proponho que por uma noite deixemos de lado preocupações, ansiedades, crises, problemas, conflitos, medos, e que independentemente das convicções pessoais ou religiosas de cada um, abramos um espaço de paz dentro de nós para usufruir da energia tão especial deste espaço, para a viagem interior, para que expandindo a nossa consciência possamos renascer numa outra plenitude.

Muito obrigada.

Teresa Gomes Mota
Pousada da Rainha Santa Isabel 28-01-2011



7-06-2010, no castelo de Estremoz, com o patrocínio da Cruz Vermelha Portuguesa, decorreu a apresentação de "Alma de Isabel -de Aragão ao Chiado".

No dia 7 de Junho, no castelo de Estremoz, com o patrocínio da Cruz Vermelha Portuguesa, decorreu o lançamento do livro “Alma de Isabel – de Aragão ao Chiado”.
A abertura da sessão foi efectuada pelo Dr. Luís Rosado, presidente da delegação da Cruz Vermelha de Estremoz  que agradeceu a presença do Presidente Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa e restantes individualidades presentes. Paulo Loução e a autora usaram da palavra, seguindo-se um momento de interpretação livre musical da obra por Patrícia Domingues.
  Seguiu-se a apresentação da obra pelo historiador e filósofo Paulo Loução, que com grande brilho e sabedoria discorreu sobre alguns dos principais temas abordados no livro, nomeadamente Ciência e Espiritualidade, crença na reencarnação e novas espiritualidades, Isabel de Aragão e o culto do Espírito Santo.    
 Dado o contexto de uma audiência de cerca de três dezenas de pessoas ligadas ao voluntariado, acção clínica e social, a autora, fazendo a ligação deste livro à cidade de Estremoz, falou nas vicissitudes enfrentadas por quem envereda pela defesa de novas causas e ideias, e partilhou com a audiência algumas formas de as ultrapassar.
No final uma interpretação livre de Patrícia Domingues foi o momento musical com que terminou em beleza e emoção esta apresentação na cidade onde morreu Isabel de Aragão.