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19 de setembro de 2012

Trabalhar num novo paradigma


A doença, a fome, a guerra, prendem a humanidade.


Mas as actividades para combater estas maleitas, geram organizações que se tornam elas próprias em máquinas que necessitam de sustento, hajam ou não maleitas para combater. Mesmo quando nasceram de uma boa intenção, mesmo quando “voluntárias”.

Está tão preso um doente à sua doença, como o sistema (a indústria) de saúde ao tratar da doença. Esta situação ocupa e cataliza grande parte da energia de todos (leia-se tempo, actividade mental, capacidade criativa, etc.)

O que aconteceria se deixassem de haver doenças? Celebrações? Não.

Um colapso económico. Pelo que tudo é feito para trocar as doenças que existem por outras aparentemente mais benignas mas na realidade mais prevalentes, mais prolongadas, mais consumidoras de recursos e cuidados de saúde.

Não se investe na prevenção nem na cura. O foco é manter a pessoa viva na cronicidade da doença.

O mesmo em relação ao trabalho no geral. Se o trabalho surge para dar resposta às necessidades do ser humano, as organizações criadas ganham vida própria e precisam de se “alimentar”, crescer, competir, expandir, ainda que para isso enveredem por actividades excessivas ou desnecessárias, prejudiciais ao ambiente e aos seres vivos, insustentáveis, criando novas e estranhas necessidades nos consumidores.

O que aconteceria se as pessoas comessem e bebessem menos, gastassem menos energia, comprassem menos coisas e respeitassem mais o ambiente, fossem mais saudáveis e felizes? Celebrações? Não. Um colapso económico.

Crescer parece ser uma exigência para a sobrevivência económica. E as pessoas cada vez “precisam” de trabalhar mais, em actividades que as afastam das suas verdadeiras necessidades como seres humanos. Ficam presas ao trabalho, por redes financeiras de malha apertada, que as mantêm vivas na cronicidade do trabalho.

A alternativa ao trabalho é o desemprego, em franco crescimento, “doença” social que mantém as pessoas presas num estado pseudo-depressivo e começa a fazer crescer toda uma organização do apoio aos desempregados: formação e qualificação, angariação de emprego, apoio social, etc. Também é necessário manter o desemprego na cronicidade como forma de alimentar estas organizações e manter as más condições laborais.

Enquanto a humanidade está neste jogo, nesta rede, onde todos ocupam algum lugar entre trabalhadores, desempregados/pensionistas e doentes, alimentando e girando em torno de organizações que ganharam vida própria e não servem os seus interesses, sendo fácil ver que há tanto a perder, resta perguntar: como sair disto?

Libertar o ser humano destas cadeias implica naturalmente grandes mudanças, queda de muitas organizações, incertezas. Que já estão a acontecer.

Aceitarmos e preparamo-nos para isso implica largar, deixar ir, seja gradual ou repentinamente, na medida das nossas possibilidades.

No futuro haverá necessidade de menos trabalho (que bom!). Uma distribuição mais equitativa será possível com a redução de horários de trabalho e criação de mais postos de trabalho.

O caminho passa por colocar o foco em actividades sustentáveis e com o fim de responder a necessidade reais e não a gerar lucros de forma cega para accionistas virtuais. Recuperando o papel de responsabilidade dos cidadãos, das organizações, e de regulação do estado, incentivando as pequenas organizações e a iniciativa individual e de proximidade.

Em consciência colocarmos as questões: o que estou a gerar com o meu trabalho e com o dinheiro que ganho? Um mundo melhor para mim e para os outros? Ou a realizar trabalho desnecessário, que contribui para mais desgaste de recursos, mais doenças, mais distância das pessoas que gosto ou roubando-me tempo das actividades que me realizam verdadeiramente?

O caminho será Libertar o ser humano para que assuma um trabalho responsável e um lazer assumido e sem culpabilidade.

A criatividade, a meditação, a oração, a criação de laços de fraternidade com compaixão, verdade e justiça, são as actividades mais nobres do ser humano que conduzem à Paz, interior e social, e dão sentido à Vida.