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Lançamento em Coimbra - 6 de Abril 2010


Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, 6 de Abril de 2010
Teresa Gomes Mota
Muito boa tarde, muito obrigada pela vossa presença. Começo por responder ao Professor Polybio Serra e Silva, às palavras espontâneas que acabou de proferir, não teve tempo para preparar, o que para mim significa que falou com o coração. Agradeço muito que o que saiu tenha sido isto, que realmente é de uma grande amizade e que é retribuída. Mas eu tenho uma surpresa para si também Professor e por isso lhe pedi que se sentasse aqui na mesa.

As primeiras palavras de agradecimento são dirigidas para os anfitriães desta casa que acolhe o lançamento de “Alma de Isabel”, o Dr. Artur Côrte-Real, Director do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, a quem desde já agradeço também as palavras que proferiu, ao Prof. Pedro Pita, Presidente da Direcção Regional da Cultura do Centro e à Sra. Prof. Maria José Azevedo, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra.



A todos os familiares e amigos, às pessoas de Coimbra e àquelas que se deslocaram de Lisboa, de Freixo de Espada-à-Cinta, o meu mais reconhecido agradecimento e manifestação de como é importante e reconfortante, a vossa presença.
Vai ser o meu papel aqui explicar-vos um pouco sobre este livro, porventura criar interesse para que o leiam, para além daquela motivação gentil e calorosa com raízes na amizade e laços familiares que me unem a muitas das pessoas aqui presentes.
Este é um livro que fala de muita coisa, o que pelo que seleccionei aqueles temas que dizem respeito mais directamente a Coimbra e ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.
Cabe ao autor, depois de terminado o trabalho de escrita, seleccionar um editor, que dará seguimento aos específicos trâmites da edição. É um passo delicado e difícil, o envio dos manuscritos, a insegurança quanto às apreciações dos técnicos, e que é também, no fundo, a confrontação antecipada com o que será a recepção do livro pelos leitores…
Este livro demorou dois anos a ser escrito, mas chegada a esta fase da escolha do editor o tempo arrastava-se, e apesar de boas intenções manifestadas por várias entidades, não era tomada nenhuma decisão.
Estávamos então no final do ano, quando o Prof. Polybio Serra e Silva, presidente da Delegação Centro da Fundação Portuguesa de Cardiologia me convidou para o jantar de Natal da Fundação, neste último ano realizado em Coimbra.
O local escolhido foi um restaurante fora da cidade, num local que não conhecia, e uma vez que iria de carro sozinha, pedi-lhe a morada exacta que coloquei no GPS.
Fui seguindo as suas indicações, e pensando nas vantagens destes equipamentos de localização geográfica para nos levar a sítios desconhecidos, de noite…
Quando supostamente já estava muito próximo do destino, e a noite estava bem escura, eu ainda andava às curvas numa estrada subindo um monte, uma floresta de ambos os lados da estrada, sem casas, não passavam carros, e comecei a sentir algum temor à medida que chegava à óbvia conclusão de que estava perdida. Que local será este? O que estou aqui a fazer? Olhando para mim própria verifiquei que estava completamente vestida de preto, o que é absolutamente natural quando se vai para um jantar com uma certa solenidade, mas naquele momento o que me ocorreu foi:
- Será que vim para o meu próprio funeral?
O céu estava estrelado, imponente, pedia-me contas:
- E então, o livro?
Foi nestas circunstâncias que tomei a decisão de publicar o livro com a máxima rapidez, e foi assim que assumi as funções de editor.
Poderão pensar:
- Loucura? Ilusão irracional?
Não, apenas ver com os olhos da Alma. E é isso que encontram neste livro, um exercício livre e corajoso deste nosso, poderemos chamar de muitas outras maneiras, sexto (ou primeiro) sentido.
Depois de tomada essa decisão, voltei a programar o GPS, que me indicou estar muito afastada do meu local de destino mas aonde me levou sem mais sobressaltos. Pelo caminho atravesso o Mondego de Norte para sul e passo mesmo junto ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, esplendorosamente iluminado, confirmando a minha decisão.
Antes de continuar, os meus agradecimentos, na qualidade de editora, a todas as pessoas que generosamente contribuíram para este livro, e cujos nomes encontrarão escritos nas suas páginas. Um destaque especial para a Catarina Marques a autora da capa, paginação e toda a concepção do design associado aos convites, site, roll-up, etc.
À Casa da Cultura de Coimbra pelo apoio institucional e ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, na pessoa do seu Director o Dr Artur Côrte-Real, pelo apoio a este lançamento.
O Dr Artur Côrte-Real, coordenando uma vasta equipa, fez a recuperação deste monumento. Não foi fácil drenar o Mondego, retirar toda a lama, limpar, reconstituir, pedra a pedra, esta ruína, este gigantesco puzzle. Seria bem mais fácil compor os pedaços em falta com tijolo e cimento, alindar… No entanto não foi essa a opção tomada.



E o que leva um homem a trabalhar durante 14 anos, enfrentar todo o género de dificuldades, ultrapassar o cansaço, perseverar até ao limite dos limites… Loucura? Ilusão irracional? Ou a concretização de um sonho, de um Ideal?
E que Ideal será esse?
Para descobrirmos, passemos então à história de “Alma de Isabel”. Trata-se de um romance, em que Clara a dado momento, tem a percepção, desconcertante para o seu mundo estruturado de uma forma racional, de já ter sido a Rainha Santa Isabel. Estamos pois a falar numa hipótese de reencarnação.
E Clara decide partir numa demanda da verdade, da sua verdade. Loucura? Ilusão irracional? Ou ver com os olhos da Alma?

Uma das primeiras coisas que vai descobrir, é que quando se vai no próprio caminho, se seguem as indicações que vêm de dentro (o que nem sempre é fácil porque é muito o ruído e a manipulação à volta das pessoas), as portas abrem-se naturalmente. Não significa que não seja preciso trabalho, disciplina, organização, cooperação, perseverança. Tudo isso é necessário, mas é feito de uma forma diferente, sem esforço.
É assim que Clara chega, de uma maneira absolutamente improvável, ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha que estava ainda em obras, e tem o privilégio de uma visita guiada pelo Dr Artur Côrte-Real.
Ele fala-lhe com muita naturalidade de D. Isabel, que parece conhecer bem como figura histórica, mas sem aparentar nenhum tipo de devoção mística ou religiosa.
Fica bem explícito nas suas palavras, quando Clara lhe pergunta:
- Não acha que, quando aberto ao público, este espaço se poderá tornar alvo de peregrinações, uma espécie de Fátima, a cidade de Coimbra é tão devota à Rainha Santa?
- Obviamente que Isabel vai ter um papel com destaque em todo este espaço museológico, mas também as clarissas, a rainha D. Leonor ou Inês de Castro são figuras de referência e que fazem parte da história do mosteiro. Penso que as romarias e actos de devoção continuarão a fazer-se ao seu túmulo na igreja de Santa Clara-a-Nova… Mas aqui a figura principal é o próprio mosteiro, que estará dotado de condições e adaptado para um grande leque de eventos, como exposições, conferências ou manifestações artísticas, que aliás já têm acontecido. Não me parece que o povo de Coimbra vá misturar as coisas.
Por esta resposta não parece pois ser a devoção à Rainha Santa Isabel o que motiva o coordenador do MSCV.
Não deixa de ser curioso também este povo de Coimbra que durante séculos vive nesta situação aparentemente paradoxal: por um lado uma grande devoção à rainha Santa Isabel, porventura a maior no país, a sua padroeira, por outro, o consentimento na degradação da sua mais emblemática obra, àquela que a própria rainha dedicou mais tempo, esforço, que escolheu para residência na fase final da sua vida.
Coimbra não parece associar o Mosteiro à sua querida Rainha Santa. O que não deixa de ser estranho…
Parece realmente haver um enigma neste mosteiro, mantido selado por camadas de lama e revelado (voltado a velar) por lençóis de água.
Mas que os engenheiros, operários, máquinas e escavadoras vieram revolver, retirar, ainda que, como já referi com um absoluto respeito pela ruína.
Se acreditarmos que nada do que fazemos é inconsequente, tudo está ligado, desenterrar um monumento com 700 anos de história, vai com certeza mexer com muita coisa, acordar um mundo que parecia estar adormecido, e este é um importante poder dos arqueólogos e das suas acções, a um nível simbólico, que falam ao inconsciente de um povo.
Mas voltemos a Clara. Que entretanto vai prosseguindo a sua procura, deixando para trás preconceitos, seguindo a sua intuição, e como esta está sempre certa, encontra pessoas extraordinárias, os livros abrem-se nos capítulos relevantes, e vai adquirindo uma nova percepção sobre si própria.
Encontramos ao longo desta obra os relatos respectivos, que com certeza irão ler de forma dependente dos interesse individuais, uns com mais detalhe nas partes históricas, outros porventura com mais curiosidade pelas partes esotéricas, outros ainda nas questões de índole científica… Uma coisa vos garanto, as aventuras de Clara sucedem-se com bastante ritmo e variedade.
Com tanta coisa Clara sente-se perdida sim. Naturalmente, quem não o está? Há pessoas que se agarram com todas as forças a convicções ou posições que parecem sólidas, mas com o mundo em mudança acelerada, quanto mais se agarram, mais perdem as referências.
Clara aprende a estar perdida, ou seja cultivar o amor, a confiança, a liberdade, a paz, a voz interior.
E é no silêncio, no espelho da sua alma, que se juntam as peças do puzzle e se resolve o enigma do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha: este mosteiro é um símbolo de uma parte importante da identidade portuguesa, não é a lama, mas uma palavra que se escreve com as mesmas letras, a Alma Portuguesa que se recolhia (ou estava presa?) nas suas ruínas.


E que Artur Côrte-Real e a sua equipa vai revelar (ou libertar?).
E é esta Alma que está agora mais livre, viva, ainda que perdida, que nós começamos a ter consciência e que não é por acaso que começam a aparecer por todo o país numerosas iniciativas dedicadas a este tema.
Obviamente que isto é algo que as pessoas de Coimbra sabem há muito.
Regressemos ao ponto inicial da exposição, àquela noite em Dezembro, quando vim a Coimbra para o jantar da Fundação Portuguesa de Cardiologia e me perdi naquela floresta no cimo de um monte e me tornei editora deste livro. Cheguei ao jantar com 1h30 min. de atraso, o Prof. Polybio sentou-me ao seu lado e leu um poema da sua autoria, que, com a sua licença, vou reproduzir aqui uma parte:
Parece, então,
Que, para bem do coração,

(um parêntesis: e não será o coração o lugar simbólico da nossa alma?)

Parece, então,
Que, para bem do coração,
Nem que, só por egoísmo,
Devemos ter em mente,
Permanentemente,
O civismo,
E, sem inveja ou arrogância,
Cultivar a tolerância,
A amizade,
A lealdade,
Acabar com o defeito,
De não ter respeito,
Ter constantemente,
Presente
A harmonia
E, sempre a sorrir,
Em cada dia,
Permanentemente,
Conviver, fraternalmente,
E, Servir!

(e agora a parte mais importante:)

Esta a razão
Sentimental
Porque este ano, a Fundação,
Fez o jantar de Natal
Em Coimbra, o Coração
De Portugal.

Faço aqui novo parêntesis para falar deste Homem que contra todas as adversidades, contra a agressividade das doenças cardiovasculares, o avanço da diabetes e obesidade, não esmorece, não perde a energia, a coragem, a perseverança, conquistando sempre mais armas guerreiros para a sua causa. Será loucura, ilusão irracional? Não, obviamente que persegue um ideal, que para ele deve ser tão claro como o sol.
Acho que agora já estaremos em condições de ver uma apresentação de slides sobre o livro, com uma duração de cerca de 5 minutos.
(Nota: parte desta apresentação pode ser vista em www.almadeisabel.com)
Isto leva-me a terminar, dizendo o óbvio, mas que precisa de ser dito. Todos os grandes homens, os grandes feitos, as grandes obras seguem o perfume de um sonho, um ideal, são guiados pelos olhos da Alma. Esta visão que começa por dentro de nós próprios, criando consciência de si, ganhando acesso à alma colectiva e à alma do Mundo.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o Mundo” -  Platão
E Clara, a que conclusão chega sobre se terá sido ou não a Rainha Santa Isabel? Sem querer retirar interesse à leitura do livro, levantando apenas um pouco do véu, Clara acaba por chegar à conclusão que essa figura da “Rainha Santa Isabel” que muitas pessoas sentem nos seus corações e a que têm enorme devoção, talvez não tenha muito a ver com Isabel de Aragão, é algo maior, é afinal a Alma do Mundo, o Espírito Santo, numa forma simbólica para o sentir português.
Terminamos com uma (poderiam ser tantas!) música cantada por um homem, com a voz da sua alma, e que nos vai acompanhar na saída para o terraço onde nos aguarda um Vinho do Porto. Este é um vinho que os meus avós Manuel e Margarida, em Freixo de Espada-à-Cinta, produziram e guardaram no ano do meu nascimento, eles que tudo pareciam ver de uma forma pura e cuja confiança e amor incondicional que pousaram em mim muito me tem ajudado no meu caminho.
Espero que acompanhados por este Porto com meio século de existência, no maravilhoso espaço em que estamos, com todos os valores que necessariamente partilhamos como homens e mulheres, possamos ver por cima do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha a Alma Portuguesa que nos convoca a todos e a cada um de nós, ou a Alma do Mundo nestes raios de sol que nos abraçam e abençoam, desde sempre, onde quer que estejamos.
Muito obrigada pela vossa presença. É ela que dá sentido a este livro.